Um trocado ou um beijo na Boca Maldita

 


"...e nunca houve uma mulher como Gilda, 
um trocado ou um beijo na boca maldita...”
(Lívia e os Piá de Prédio)

Em 2010 fiz uma postagem na qual comentei que quem morou e circulava muito pelo centro de Curitiba da segunda metade da década de 70 até início dos anos 80, certamente viu ou ouviu falar da Gilda, a travesti mais famosa que Curitiba já teve.

A Gilda tinha como seu palco principal a Boca Maldita. Lá era temida e admirada por todos. Temida porque um pedestre mais distraído poderia ser abordado por ela e se não desse um trocado, receberia da Gilda um beijo, se possível na boca. E admirada por ter coragem de ser quem era no centro machista de Curitiba. Dizem que era pouco apreciada pelo então presidente da associação da Boca Maldita, que segundo relatos, tentou o quanto pode afastá-la da região e do Carnaval de Curitiba.

Como morei no Edifício Asa nesse período, volta e meia via a Gilda perseguindo alguns passantes, para diversão dos que observavam na segurança das janelas e marquises. Não raro, alguém combinava com ela um beijo surpresa num colega ou num parente de fora, para depois, virar chacota de ter se tornado mais uma vítima.

A melhor lembrança que tenho da Gilda aconteceu num dia de muita chuva. Naquela tarde, enquanto todas as pessoas surpreendidas buscavam a proteção e se apertavam debaixo das marquises, lá no meio da XV, no coração da Boca Maldita, sozinha estava a Gilda de braços abertos, dançando e dando boas vindas a tempestade.

Quando Gilda morreu em março de 1983, uma placa encomendada por pessoas que a admiravam, chegou a ser instalada na Boca Maldita, mas logo foi retirada por ordem do tal presidente da associação da Boca.

Pois quase 40 anos depois, esse monumento da foto foi instalado pelo artista e produtor cultural Guilherme Jaccon, para o 67º Salão Paranaense de Arte Contemporânea como homenagem e reparação histórica, não se sabe até quando.


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