Uma madrinha de muitos

 






Participei quando estudande universitário (de 1983 à 1988) de uma entidade estudantil de cunho filantrópico, cultural, social e esportivo chamada UGC, União dos Gakusseis de Curitiba. 

A UGC nasceu nas repúblicas de estudantes descendentes de japoneses, que enviados à Curitiba para estudar, precisavam de um local de acolhida e de compartilhamento de sonhos e ideais. Fundada 18/09/1949, a UGC teve sedes em várias repúblicas (até ter sua sede própria em 59 no Alto da XV), uma delas foi a República Pentágono, na Praça Rui Barbosa. 

Era comum as repúblicas terem uma madrinha e a madrinha da Pentágono era Hatsume Nakahata, que acabou por tornar-se a madrinha da UGC, título que carinhosamente carregou por 53 anos e até hoje assim é reconhecida.

Rosa Hatsume Nakahata (Rosa seguramente foi o nome que foi “agregado” ao nome japonês no Brasil), nasceu em Kumamoto no Japão em 1922. Seu pai faleceu quando ela tinha um ano e Hatsume passou a morar com sua avó. Cresceu distante da mãe, que imigrou para o Brasil na década de 1930. 

Após a morte de sua avó, decidiu procurar sua mãe no Brasil, que morava em Antonina, onde aprendeu e passou a ensinar corte e costura. Imigrou para o Brasil em 1939, início da segunda grande guerra. Em 1942 mudaram-se para Curitiba, pois por causa da guerra, os italianos, alemães e japoneses deveriam deixar o litoral. 

Em 1944 Hatsume Nakahata tirou seu diploma de bordado e fez um curso na Casa Roskamp, tradicional empresa de aviamentos fundada pela alemã Ana Bertha Roskamp. Trabalhou na Casa Roskamp até 1983, mesmo tendo se aposentado em 1979. 

Ontem, 11/05/2024, passei rapidamente pelo Bacacheri, onde a revitalização da Praça Hatsume Nakahata foi entregue à comunidade, graças ao pedido da UGC, projeto da estudande de arquitetura Melissa Ayana Odam sob orientação das arquitetas (ex-ugecenses) Denise Mitiko Murata e Loreley Kikuti, viabilizada com recursos de emenda parlamentar destinados pelo mandato do vereador Nori Seto.

A praça já existia desde 2002, apenas como um logradouro gramado com uma placa que fora roubada em algum momento. O projeto tornou o local muito mais agradável, com paisagismo e vista aérea que lembra o mapa do local de nascimento da madrinha, Kumamoto.

Conversando com a Miti (arquiteta Denise Mitiko Murata), lembramos o quanto visitar a madrinha era sempre especial. Entrar na casa da madrinha no Alto da Glória, era como entrar num portal para outro mundo, onde éramos sempre acolhidos com carinho, sempre acompanhado de boa comida e boas histórias da UGC. 

Muito significativo, como comentado pelo Nori Seto, que essa homenagem à madrinha tenha ocorrido um dia antes do dia das mães, pois ela foi praticamente a segunda mãe (madrinha) de tantos estudantes que frequentaram a UGC e que viam nela uma fonte viva de histórias, conselhos e acolhimento.

A praça Hatsume Nakahata, que um dia terá belas cerejeiras em flor,  fica na Av. Nossa Senhora da Luz, esquina com a R. Cel. Romão Rodrigues de Oliveira Branco – Bacacheri.

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