Apagamento ...
Me recordo vagamente de um filme no qual um personagem é questionado sobre qual seria seu maior medo e a resposta (em inglês) foi “oblivion”. Numa tradução direta essa palavra significa “esquecimento”, mas aprofundando um pouco mais, pode significar “um estado de inconsciência permanente; estado de inexistência ou nada”.
Num único dia o que já foi um lar e um estabelecimento comercial por mais de 70 anos, a Mercearia do Zequinão e a casa ao lado, foram demolidos. Resta ver o que brotará no lugar.
Uma das coisas que mais me chamaram a atenção nesse processo de “apagamento”, foi a retirada de um frondoso pé de jaboticaba que ficava junto ao murinho de concreto, que segundo me contou um dia o Sr. Gabriel Zequinão, fora plantado pelo sei pai e que quando produzia, atraia não apenas os pássaros, mas também pessoas que passavam pela calçada e não tinham vergonha de surrupiar algumas doces bolinhas pretas.
Vendo aquele tapume fechando tudo, fiquei pensando o quanto uma história tão longa de vida pode desaparecer numa simples passada de trator.
E citando mais uma vez Andressa Barrichelo para o livro Saudade do Ninho:
Quando uma mansão ou casa singela vão ao chão na cidade sem que disso se faça luto ou arte, parece haver a dificuldade de seus habitantes em encadear o sentido do hoje com o sentido do ontem.
Considerando que o hoje, tempo no qual vivemos, está fadado a tornar-se passado, a fragilidade de conexão de nossas experiências com os sentidos que nos são oferecidos pelo que nos antecede torna a nossa própria realidade menos sólida – feito alvenaria úmida ou madeira oca. Feito virtual.
Quando uma nova edificação se ergue sem produzir qualquer gancho com o que naquele espaço/terreno havia, perdemos a chance de demonstrar que a vida criada a partir do chão é, na verdade, um contínuo e que as fantasias mais íntimas projetadas em forma de construção madeira ou alvenaria são, ainda, um modo minimamente perene de representação.
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