Adeus ao Zequinão

 

























Exatamente ontem (28/12/21) circulando de carro em companhia da minha filha (que mora hoje em Florianópolis) pela Fagundes Varela, ao passar pela Mercearia do Zequinão comentei que o estabelecimento continuava fechado. Ela perguntou há quanto tempo estava fechado. Comentei que desde o início da pandemia, que mesmo assim eventualmente via o Zequinão circulando pela sua quadra, mas nos últimos tempos não o via mais.

Infelizmente soube hoje que nessa semana o Sr. Gabriel Alceu Zequinão faleceu e que teria sido sepultado no Boqueirão.

Não tínhamos uma relação de amizade, nos falamos apenas umas 5 vezes desde que nos mudamos para essa região há quase 20 anos. Mas praticamente todos os dias passava pela Mercearia do Zequinão e ao longo desse tempo, era muito comum eu vê-lo na porta da mercearia ou caminhando pelas proximidades. Numa dada época, todas as manhãs praticamente no mesmo horário, eu o via caminhando na direção da Nossa Senhora da Luz, onde ele permanecia esperando por algo ou alguém.

Vi sua mercearia repleta de pouca variedade de produtos, com a fachada bem cuidada, depois com a fachada toda pichada e em 2018, toda restaurada pela ação de um grupo de moradores do bairro. Veio a pandemia, ele fechou e agora, um comércio de mais de 60 anos encerra seu ciclo com sua partida. Não sei se deixou descendentes e imagino então, que sua esquina, onde já sofri um grave acidente de carro com a minha filha, será ocupada por alguma outra edificação no futuro. Fará falta!

Ao longo desses 12 anos que mantenho esse blog, já fiz 10 postagens (incluindo a de hoje) sobre o Zequinão e sua Mercearia, inclusive uma na qual em companhia do grupo Urban Sketchers Curitiba, desenhamos a mercearia e conversamos com o Zequinão.

Abaixo, o texto da primeira postagem que fiz sobre a Mercearia e sobre o Sr. Gabriel (ou Varanda) em 21 de janeiro de 2011, há praticamente 10 anos.

Houve um tempo, há algumas décadas, em que a mercearia do bairro era local de encontro e prosa com o dono do estabelecimento e com as mesmas pessoas que frequentavam o local. Nesse tempo, as grandes, estéreis e impessoais cadeias de supermercados não existiam e todas as compras da casa eram feitas nas mercearias, quitandas, açougues, feiras e no Mercado Municipal. Com frequência as compras eram feitas nessas mercearias e a conta era anotada no caderninho, para ser paga futuramente e o dono da mercearia conhecia pelo nome todos os moradores do bairro. 

A concorrência com os supermercados foi uma batalha desleal para esses pequenos estabelecimentos, que com o tempo foram desaparecendo dos bairros, restando apenas alguns poucos que continuam funcionando, mais pela teimosia de seus antigos donos do que propriamente como um bom negócio.

Na rua Fagundes Varela - 261, no Bairro Jardim Social, temos um desses últimos estabelecimentos que resistem ao tempo e à modernidade. Nesse endereço funciona a Mercearia Zequinão, onde mora e trabalha há mais de 50 anos o Sr. Gabriel Alceu Zequinão. Curitibano, descendente de italianos, cuja grafia do sobrenome acabou sofrendo uma alteração em algum dado momento da história. 

Sua mercearia foi por um curto período administrada pelo seu pai e pelo irmão, mas logo passada para ele, que a mantém até hoje. Em razão da proximidade com grandes supermercados, hoje ele mantém à venda apenas alguns itens que eventualmente seus ainda fregueses habituais e outros passantes procuram, tais como carvão, linguiça, ovos e claro, uma grande variedade de bebidas.

Enquanto conversávamos, dois de seus sobrinhos apareceram e constam de uma das fotos de hoje. Disse o Sr. Zequinão (cujo apelido é Varanda e que ele não tem ideia do motivo), que sua família foi proprietária de muitos terrenos na região do Jardim Social e Bacacheri, numa época em que as pessoas duvidavam que Curitiba fosse alcançar essa região que era inclusive conhecida como Planta Florestal.

Enfim, bons tempos que não voltam mais, mas que felizmente deixaram alguns remanescentes como o Zequinão para contar história.

Ficam os relatos e as fotos! As que fiz ao longo desses anos todos, inclusive hoje, publico aqui em homenagem ao Zequinão. Que descanse em paz. 

Comentários

  1. Sem dúvida, faz falta aos vizinhos e aqueles que de algum modo conheceram o armazém e seu proprietário Seu Zequinão...

    ResponderExcluir
  2. Muita lenha e nó de pinho nos invernos desde 1999, comprados no Zequinão. Tristeza...

    ResponderExcluir
  3. Que lindo. Obrigada pela homenagem meu vô vai deixar muita saudade com o jeitinho simpático que ele tinha ❤️

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Seu avô? Meus sentimentos! Quando o via circulando pela quadra da Mercearia, sentia que estava perto de casa.

      Excluir
  4. O tempo leva tudo e deixa saudades.

    Sinto falta também da La Gôndola, na XV. Tinha a cara da Curitiba que aprendi a amar.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O que achou desse post? Seu comentário é muito bem-vindo.

Postagens mais visitadas