O Belvedere em chamas










Anos de abandono, descaso e burrocracia em relação ao Belvedere teve seu ápice na noite de ontem, quando por volta das 22:00 um incêndio que acredita-se criminoso completou o “serviço” nesse prédio histórico que quando estava íntegro, encantava à turistas e moradores de Curitiba que por ele passavam na Praça João Cândido.

O Belvedere foi inicialmente pensado como um mirante. Em estilo art-nouveau, foi construído em 1915 quando Cândido de Abreu era prefeito de Curitiba. Em 1922 foi sede da primeira emissora de rádio do Paraná, a PRB-2. Em 1931 foi observatório astronômico e meteorológico. De 1962 até um passado não muito distante, foi sede da União Cívica Feminina. Depois, se me recordo, foi brevemente um módulo de polícia e então ficou fechado por muitos anos, sendo sucessivamente vandalizado, usado como banheiro público e mocó para uso de drogas.

No site da Agência de Notícias do Estado, uma matéria publicada em 19/01/2015 inicia da seguinte forma: “O Estado do Paraná oficializou nesta segunda-feira (19) a posse do imóvel Belvedere, localizado na Praça João Cândido, no Largo da Ordem, em Curitiba, pela Academia Paranaense de Letras. O edifício, tombado pelo Patrimônio Cultural do Paraná, abrigará o Observatório da Cultura Paranaense, que promoverá ações voltadas para a valorização da cultura do Estado em parceria com órgãos governamentais e outras instituições da sociedade. “Todos nós queremos que o prédio seja preservado e seja um ponto de referência, particularmente tendo os acadêmicos lá, mas que, ao mesmo tempo, seja uma fonte irradiadora da cultura paranaense”, afirmou o secretário especial para Assuntos Estratégicos, Flávio Arns.”

Praticamente três (3!) anos se passaram, a APL não ocupou o Belvedere e o pobre prédio continuou sendo suporte para vandalismo, ponto de uso de drogas e banheiro público.

Segundo informou o prefeito Rafael Greca, o Belvedere tem recursos de Potencial Construtivo liberados no valor de R$ 1.140.000,00 - já depositados em conta para criterioso restauro. Disse que repetidas vezes este ano ocupou-se do assunto travado por odiosa burocracia. O projeto do IPPUC só não foi licitado porque aguarda liberação da Divisão do Patrimônio Histórico do Paraná. Disse ainda que as chamas não nos derrotarão e nem a burocracia e que após perícia dos bombeiros e assim que a burocracia (melhor seria chamar de burrocracia) permita a obra será iniciada e que Curitiba terá de volta o Belvedere revitalizado de alguma maneira.

Evidentemente os custos inicialmente previstos para o restauro serão insuficientes, já que os danos agora são graves. Quanto esse descaso e burocracia custará aos cofres públicos (nosso dinheiro)? Quanto custará para Curitiba, especialmente nessa época do ano, perder a possibilidade de expor com orgulho para quem visita nossa cidade um prédio tão icônico? Não teria sido mais barato e digno ter cuidado do prédio e de todo nosso patrimônio antes da degradação e o vandalismo tornar tudo mais caro e inaceitável?

Falar de fora, como estou fazendo, pode ser fácil já que não vivo o dia a dia das agruras de governar o estado ou Curitiba, mas não é fácil ver mais um elemento relevante do nosso patrimônio histórico em ruínas, coincidentemente como no caso da Casa Erbo Stenzel, em cinzas.

Complementando hoje (08/12/17) a postagem, em resposta aos comentários feitos pelo prefeito em rede social, a Gazeta do Povo em matéria veiculada em 07/12 no Caderno Haus informa que: "a Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC) esclarece por meio de nota que aprovou em 18 de março de 2015 o projeto de restauração integral do edifício. Em 14 de novembro deste ano foi solicitada uma nova análise e parecer do projeto pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), que elaborou atualizações nos projetos e orçamentos da restauração do prédio. O parecer favorável foi emitido dois dias depois, em 16 de novembro de 2017, explica a CPC."

Comentários

  1. Sugestão: que cada "acadêmico" faça um artigo para publicação na Gazeta, mostrando ao povo a importância do Belvedere. Se não sair a reconstrução pelo menos conheceremos a obra de algum "acadêmico".

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  2. Cara, nem fale. Quando a uns dois anos atrás eu fiz aquelas denúncias, corri como um louco para ver se alguém se pronunciava. Secretaria de Cultura mandou pro Patrimônio Histórico, que mando pro 156, que mandou pra polícia, que a APL diz que era dela.. e o que resolveu? Denunciar pra os meios de comunicação, Gazeta, CBN, Band News. Aí deu alguma repercussão e levaram um projeto de detentos que fazem trabalhos comunitários lá pintar. Mas tudo voltou ao normal, imoral. Toda vez que qualquer pessoa passava ali podia ver qual seria o fim dessa história, só os governantes "tão inteligentes" não viam. Uma estranha atitude, inclusive do próprio Greca que na época fez um blá-blá antes mesmo de ser candidato.

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  3. Vergonha, simplesmente uma vergonha.
    Mais um patrimônio que se vai.

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  4. Escrevi meses atrás, aqui neste espaço, sobre o abandono de Curitiba. Estava a passear com meu filho pequeno, me senti intimidado por pessoas suspeitas, que ficavam a se drogar ou emmbededar na bela praça.

    Se não fosse meu porte avantajado, talvez tivesse sofrido um assalto, isso em pleno dia.

    Não tem jeito, ou o Estado toma os espaços públicos, ou a marginalidade o fará de vez. A praça, pichada, suja e agora queimada, é do povo de Curitiba, como também dos que assim como eu passeiam pela bela cidade. O Belvedere, assim como outros logradouros abandonados, fazem parte da história curitibana e paranaense.

    Um sentimento de tristeza e de indignação tomam conta de mim cada vez que vejo cenas assim.

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