Ah! Esse nosso jeitinho ...
Mark Mason muito conhecido pelo seu best seller mundial “A Sutil Arte de Ligar o Foda-se”, veio para o Brasil passar uma chuva e acabou ficando quatro anos. Conviveu e observou muito a cultura e o povo brasileiro, casou-se com uma brasileira e com muito amor, segundo ele, escreveu um artigo intitulado “Uma carta aberta ao Brasil”, que é um soco na boca do estômago, mas que reforça algo que venho pensando, vendo na TV e nas ruas durante a pandemia da Covid-19.
Recentemente nas redes sociais e em artigos, pessoas se perguntam o que raios acontece no Japão para que mesmo sem as fortes restrições pelas quais passaram os países europeus, esse pequeno e densamente povoado país oriental não apresenta números de infectados e mortos pela Covid como em outros países, especialmente se comparado com o Brasil.
Aos números de hoje: no Brasil 1.867.841 infectados e no Japão 21.502. No Brasil 72.234 mortes registradas e no Japão 982. No Brasil são 340 mortos por milhão de habitantes e no Japão 8 (oito!). No Brasil vivem 25 pessoas por quilômetro quadrado e no Japão 335.
Do alto da minha ignorância, baseado no que li e observei pessoalmente no Japão, acredito que algumas explicações possíveis para o que acontece por lá são as seguintes. O distanciamento social é algo meio que natural para o japonês. Eles não se cumprimentam com beijos, abraços e apertos de mão, mas com uma respeitosa reverência mantendo uma respeitosa distância. Mesmo atualmente, não é comum ver demonstrações de afeto em público entre casais, mesmo um singelo caminhar de mãos dadas. Não se entra em casa de ninguém com sapatos. Usar máscara é tão banal quanto ter um cartão de transporte e usa-se máscara não para proteger-se, mas para proteger o OUTRO. O japonês é ensinado em casa e na escola a sempre respeitar o próximo e a sempre pensar na comunidade antes de si mesmo. A comunidade é sempre mais importante do que a família, que é mais importante do que o indivíduo.
Por essas razões se o governo japonês pede para observar o distanciamento social, evitar aglomerações, ficar em casa se sentir qualquer sintoma, não há necessidade de lei ou imposição, a cultura desse país basta para que as pessoas respeitem isso tudo. Não sei se esses pontos explicam tudo, há muito a ser estudado e descoberto sobre esse vírus, mas é o que penso no momento.
Voltando ao Mark Mason, em seu artigo “Uma carta aberta ao Brasil” de 11/02/2016 (peço que leia na íntegra aqui), ele começa dizendo que:
Durante esse tempo em que estive aqui, eu conheci muitos brasileiros que me perguntavam: “Por que? Por que o Brasil é tão ferrado? Por que os países na Europa e América do Norte são prósperos e seguros enquanto o Brasil continua nesses altos e baixos entre crises década sim, década não?”
No passado, eu tinha muitas teorias sobre o sistema de governo, sobre o colonialismo, políticas econômicas, etc. Mas recentemente eu cheguei a uma conclusão. Muita gente provavelmente vai achar essa minha conclusão meio ofensiva, mas depois de trocar várias ideias com alguns dos meus amigos, eles me encorajaram a dividir o que eu acho com todos os outros brasileiros. Então aí vai: é você. Você é o problema.
Observando a evolução da pandemia no Brasil, praias lotadas, festas rolando em todos os lugares, pessoas sem máscaras nas ruas, aglomerações em bares, parques e praça, protestos de peito e cara abertos pelas ruas, venho alternando humores e opiniões, mas acho que a raiz do nosso problema não é (apenas) o governo, a falta de informações, a falta de remédio específico, a falta de vacina, mas o egoísmo das pessoas, a “Lei de Gérson” (lembram disso?), o “se a farinha é pouca o meu pirão primeiro” e por aí vai nesse nosso “jeitinho brasileiro”.
Como diz o artigo, não deve ser algo que vá mudar em anos, mas talvez décadas, isso se os mais jovens conseguirem se livrar desse nosso “jeitinho”.
Concordo meu amigo! Infelizmente...
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ResponderExcluirEu discordo amigo, vejo sim problemas com o povo brasileiro. Mas acho que comparar é impossível. Além de sermos uma democracia extremamente recente também sofremos diversos casos de governantes corruptos que atrasaram nosso país. Acho que se pudêssemos ver outras culturas nas mesmas circunstâncias seria possível ver que no fim não seria tão diferente assim.
ResponderExcluirMas enfim temos muito o que melhoras, mas mesmo assim acho que somos um povo muito forte e guerreiro, que se preocupa com os outros, que tem amor no coração, que pulsa paixão em suas veias onde corre um sangue quente, latino e que vale muito!
Seria bom começarmos a valorizar o nosso povo ao invés de sempre criticá-lo.
Não acho que seja uma questão de democracia jovem ou não. Quantas pessoas você conhece que trafega pelo acostamento, que fica com um troco entregue à mais, que fura fila, que burla uma lei de trânsito e outras inúmeras atitudes egoístas que podem ser classificadas como pequenos delitos? Isso faz parte da formação cultural do nosso povo e que apenas o tempo e muito esforço pode mudar. Obviamente não se pode dizer que todos os brasileiros são assim, mas via de regra, somos. Obviamente há uma bela lista de qualidades que nos diferencia, mas acho inegável que temos que evoluir. Não acho também que simplesmente terceirizar a culpa para "governantes corruptos" uma simplificação fácil demais. Se os tivemos é porque OS ELEGEMOS (os que foram e os que são, porque entendo que são todos farinha do mesmíssimo saco).
ExcluirComplementando com o que vi agora há pouco na TV. No dia em que o Brasil atingiu a vergonhosa marca de 100 mil mortos pela Covid, mostraram bares absolutamente lotados em SP e no RJ. Baile funk com mais de 800 pessoas em BH, praias lotadas em Fortaleza. Pessoas amontoadas, sem máscaras e sorridentes para a câmera como quem debocha daqueles que se cuidam e cuidam dos outros. Isso não é falta de informação, não é negacionismo, é puro e simples egoísmo, é conscientemente o "meu direito ao prazer é maior do que o seu direito à vida". Se a população (uma parte dela logicamente) age assim, porque não os nossos políticos.
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