Santa Felicidade




Devido a uma gentil solicitação de uma leitora desse blog (legal saber que alguém lê esse blog!), vou passar algumas informações sobre Santa Felicidade, que tem sua origem e ainda hoje é altamente identificado com a imigração italiana. Segue um pouco da história.

Em 1876 o Brasil firmou um acordo com a Itália para incentivar a entrada de italianos no país. Os boatos sobre a fertilidade das terras americanas e o sonho de uma vida melhor chegavam à Europa.

Em 11 de dezembro de 1877, partiu de Gênova, na Itália, um navio trazendo muitos imigrantes, principalmente da região do Vêneto. Vieram famílias inteiras e outras com apenas alguns membros.

No dia 2 de janeiro de 1878, o navio chegou ao Rio de Janeiro e três dias depois, aportou em Paranaguá. Encaminhadas por funcionários do governo, as famílias se instalaram no litoral do Estado. Passados poucos meses, os primeiros problemas de adaptação começaram a surgir. O calor, a água lamacenta, a terra que não se adequava às atividades agrícolas desejadas e os insetos, os bichos-de-pé e o berne, aterrorizavam os colonos.

A luz veio com os tropeiros que cruzavam o litoral em direção a São Paulo. Através deles, os italianos descobriram a existência da pequena cidade de Curitiba, onde o clima e as terras pareciam-se mais com a Europa. Valendo-se do direito de mudar de endereço pelo menos duas vezes, diversas famílias organizaram-se e solicitaram ao governo a mudança.

Com suas economias, adquiriram um grande pedaço de terra salubre para o cultivo à margem da cidade. A região adquirida pertencia aos irmãos Arlindo, Antônio e Felicidade Borges. Ali, eles fundaram a colônia Santa Felicidade, que recebeu esse nome em homenagem a Felicidade Borges, a irmã que mais apoiou a venda das terras para os imigrantes, que depois se espalhariam também pelos bairros Cascatinha, Butiatuvinha, São João, São Braz, Água Verde e Umbará. Há quem diga que Dona Felicidade Borges, ao fazer doação (nessa versão não cita que houve uma venda) de uma área de terras para o patrimônio da colônia, pediu que o local levasse o seu nome. O pedido foi respeitado e o espírito religioso motivou o acréscimo de "Santa" ao nome da doadora.

A colônia dedicou-se à produção de hortifrutigranjeiros, à plantação de erva, ao fabrico de vinho e queijo e ao trançado de vime.

A Igreja Matriz de São José é uma das construções mais importantes da colônia, com sua fachada de elementos românicos e clássicos e o elegante campanário isolado do corpo principal do edifício, conforme tradição italiana. Quase em frente à Igreja está situado o cemitério de Santa Felicidade, com seu inédito panteão construído por 18 capelas em estilo neoclássico inaugurado em 1886 e tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico em 1977. Ao longo da Via Veneto e da Avenida Manoel Ribas, destaca-se exemplares da arquitetura popular, tais como a Casa dos Gerânios, 1891, construída por Nicolau Boscardim; a Casa dos Painéis do século passado, com pinturas na parede frontal com motivos de paisagem, a Casa das Arcadas, construída por Marco Mosselini há aproximadamente 100 anos, com pórtico em arcos e a Casa Culpi datada de 1897.

Porém, a atração maior de Santa Felicidade é a de ser o Bairro Gastronômico de Curitiba, com grande número de restaurantes ali instalados que oferecem, além de delicioso vinho caseiro, os pratos típicos como risoto, polenta, lasanha, nhoque, macarrão e frango. Completando esta atração, existem as tradicionais vinícolas e cantinas de vinho, lojas de artesanato e móveis de vime, além do sugestivo portal de entrada do bairro, inaugurado em 27 de outubro de 1990 representando os valores da cultura italiana trazida pelos primeiros imigrantes que chegaram há mais de um século.

Além da gastronomia, os italianos deixaram sua marca na cidade por seu sendo de cidadania, organizando várias sociedades operárias e sindicatos.

Fontes: Almanaque KUR’YT’YBA. Fenianos, Eduardo Emílio. Univer Cidade, 2006.
Associação do Comércio e Indústria de Santa Felicidade (ACISF).
www.acisf.com.br

Comentários

  1. Agradeço pelas informações. Acho que nunca li a história da bairro mais bem explicada. Vc sabe quando mais ou menos Santa Felicidade começou a ganhar essa fama gastronômica?

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  2. Oi Lara.
    Podemos intuir. Os principais restaurantes de Santa Felicidade são: Cascatinha (fundado em 1949); Velho Madalosso (fundado em 1963); Veneza (1965). Santa Felicidade passou a ser procurada por suas tradições na década de 60, mas creio que a fama mesmo veio na década de 70, quando por exemplo, o Novo Madalosso ampliou-se até atingir seus 4.645 lugares, sendo o maior restaurante das américas. Outros restaurantes importantes nasceram no início dos anos 80 (Dom Antonio e Casa dos Arcos).

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  3. Já fiz "longos" passeios pelo seu blog volta e meia, mas sempre me surpreendo com dados e fotos que me serão úteis ao blog.
    Faz tempo que desejo falar de Santa Felicidade e não sabia que o Novo Madalosso é o maior das Américas.

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  4. Estou pesquisando e procurando confirmar os registros e história da família de imigrantes que vieram do Vêneto a partir de 1877. Na verdade foram vários navios a vapor cuja rota era o Porto de Gênova - Porto do Rio de Janeiro. De lá seguiam para Minas Gerais e São Paulo ou para o Sul, através de navios menores, onde se fixaram. No Paraná chegavam através de Paranaguá.

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  5. Estou procurando dados de dona Felicidade Borges, quando morreu, onde viveu, etc.

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