A arte sob os nossos pés

















“As calçadas portuguesas estão prestes a ser reconhecidas como Patrimônio da Humanidade. Arte referenciada ao mosaico da civilização bizantina, a presença das calçadas em Curitiba é particularmente importante por ser o resquício do Movimento Paranista das primeiras décadas do século XX. É o calçamento que valoriza as áreas históricas da cidade, como o bairro São Francisco, a Praça Generoso Marques, a Rua XV de Novembro, e muitos outros logradouros, praças e ruas. Mais do que o piso, as calçadas portuguesas são um significativo elemento componente da paisagem cultural.”

O texto acima abria o convite para o evento “Calçadas Portuguesas: a arte sob os nossos pés”, promovido pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da FAE Centro Universitário, em parceria com o Observatório do Patrimônio Cultural de Curitiba que já aconteceu nos dias 28 e 29/08.

Eu participei apenas do evento de fechamento, que foi uma palestra com Ernesto Matos (fotógrafo português), Gil Piekarz (geólogo) e Key Imaguire Junior (arquiteto). O fotógrafo português circulou pelo mundo registrando a ocorrência dessa arte em diversos países. O geólogo falou de onde veem as pedras que revestem as nossas ruas e calçadas. O amigo e arquiteto Key Imaguire Jr falou do movimento paranista, do quanto ele teve alcance tímido e do quanto as nossas calçadas de petit pavê são importantes para contar/preservar um pouco dessa história.

Fora do programa, a coordenadora do evento chamou ao palco a vereadora Julieta Reis, representando a Câmara dos Vereadores e a Prefeitura de Curitiba. O resumo de sua fala para mim foi um indicativo preocupante do que pensa nossos políticos sobre a preservação do nosso patrimônio histórico (ainda mais vindo de uma pessoa que tem estreita ligação com a Feirinha do São Francisco).

Disse a nobre vereadora que o poder público precisa achar o ponto ideal entre preservação do patrimônio cultural e a acessibilidade/segurança da população. Até aí, perfeito o raciocínio, mas disse a seguir nossas calçadas são um perigo e que a Câmara homenageou o que consideram o último (!!!) calceteiro de Curitiba e que por causa disso, deu a entender que as nossas calçadas cada vez mais perderiam qualidade, atentando então contra a acessibilidade/segurança dos pedestres. Sua fala me deixou o gosto amargo na boca, de que o destino das nossas calçadas históricas seria a substituição por outros revestimentos sem alma e sem lastro com a história de Curitiba.

Agora convenhamos, temos em Curitiba um último calceteiro?? Não é mais possível essa pessoa transferir conhecimento para outras pessoas? Não há mais pessoas inteligentes o suficiente para aprender esse nobre ofício?? Uma equipe de calceteiros bem treinada, mantendo e até ampliando com qualidade as calçadas de petit pavê, além de preservar um patrimônio de Curitiba, garantiria a acessibilidade e a segurança de quem pisa nessas calçadas, exatamente como o fotógrafo português demonstrou em abundância na sua palestra.

Se um dia nossas calçadas históricas encolherem ou desaparecerem, certamente não será por culpa do revestimento, mas da falta de atitude política/administrativa de capacitar adequadamente funcionários da prefeitura que teriam a obrigação de manter essas calçadas com qualidade.

Ontem realizei uma caminhada solitária pelo centro e pelo São Francisco, registrando alguns padrões das nossas lindas calçadas de petit pavê, que tanto me fazem sentir em casa, me fazem sentir em Curitiba. Que existam para sempre.

Comentários

  1. Participei do evento acima citado e, se já gostava da #artedacalcetaria, depois de ouvir e acompanhar a narrativa, acompanhada de fotos do fotógrafo Ernesto Reis,mais gosto das calçadas ilustradas,Takeuchi.

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  2. Uma correçãoao meu comentário acima: o fotógrafo Ernesto Matos.

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