As quase casas de madeira de Curitiba







Desde que comecei com essa aventura de manter um blog dedicado a Curitiba, com o compromisso de diariamente publicar uma imagem da cidade e em razão disso, passando a olhar atentamente a cidade por onde quer que eu circulasse, percebi alguns tipos de casas que me deixaram intrigado. Trata-se de casas basicamente de madeira, mas que no limite frontal do terreno, são feitas em alvenaria ocupando toda a extensão do lote. Como não são raras e estão espalhadas por toda cidade (ou seja, não é uma característica de um bairro), sempre achei que deveria existir uma explicação para essas casas.
Estou lendo um livro intitulado “Espirais de Madeira – uma história da arquitetura de Curitiba” (Autor: Irã Taborda Dudeque; Editora Nobel), importantíssimo para quem se interessa por arquitetura e gostaria de entender um pouco a “cara” que Curitiba tem.
No capítulo intitulado “a invenção de um vernáculo” encontrei a explicação para essas casas. No início do século XX a abundância de madeira e de serrarias em Curitiba fez com que o preço da madeira fosse muito baixo e dessa forma, o uso da madeira deveria ser evitada pelos mais abastados e era assim, associada a pessoas pobres, associação que perdurou por muito tempo. Para dificultar a construção de casas em madeira, o código de posturas de 1919 definiu que Curitiba seria dividida em 3 círculos concêntricos. No primeiro círculo todas as casas deveriam ser em alvenaria, edificadas no alinhamento frontal do terreno e com alturas idênticas. Muitas casas em madeira foram toleradas, desde que ocultadas atrás de fachadas em alvenaria (eis a explicação). No segundo círculo, as casas em madeira seriam toleradas, desde que pintadas a óleo, não tivessem mais de um pavimento e o recuo frontal fosse no mínimo de 10 m e os laterais de 2 m. No terceiro círculo, as casas de madeira seguiriam as mesmas regras, mas poeriam ser pintadas de cal.

Comentários

  1. Vejo que você fica entusiasmado, como eu, ao descobrir as curiosidades da cidade. Muito interessante mesmo!
    Outro dia fui até o Beto Batata com o propósito de fotografar a entrada, já que pretendo fazer um post sobre ele. Olho daqui, olho dali, mas acho essa entrada tão... como diria... simples, sem nome, sem identidade... que não fotografei. Agora me deparo com a sua foto.
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  2. Takeuchi,
    eu nasci nesse tempo - já no final dele, para falar a verdade - em que a madeira era tão barata e abundante, que para construir bastava ir até o final da rua e cortar uns pinheiros (exagerando um pouco); e nasci a caráter, em casa pobre de madeira de empregado pobre de uma serraria, no pátio mesmo da serraria, em Ponta Grossa. Até poucos anos atrás essa casa ainda existia; agora, até onde posso ver no Google, não existe mais. Tenho uma foto dela; um dia desses, quando achar, posto no meu blog.
    Lembro que meu pai, quando queria dizer que uma casa era boa - para os nossos padrões - dizia: "frente de material!". Ele mesmo chegou a construir uma dessas em Ponta Grossa, que se não me engano ainda existe.
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  3. OI GIna. Nesse mesmo livro, o autor mostra evidencias de que oa lambrequins não são, como forçaram na época, algo exclusivo da imigração polonesa. É outra bela história da nossa cidade.

    Oi Ayde. Você morou numa serraria? Que fantástico! Então você também sabe o que é morar numa casa de madeira. Lembro que pequeno, eu ficava olhando cada tábua não pintada da minha casa e parecia que em cada uma delas eu via imagens e criava histórias.

    ResponderExcluir
  4. Olá...muito interessante essa história das casas mistas, gostei e são lindas, também morei em casa de madeira em frente a uma serraria e conheci muitas casas de pessoas conhecidas que tinham casas só a frente de alvenaria e é bem isso que vc falou ao valorizar a casa se dizia a frente é de alvenaria, mas precisamente de (material)...

    ResponderExcluir
  5. Vou procurar esse livro, obrigada pela dica, sempre fui fascinada pela arquitetura da cidade e essas casas com a fachada de alvenaria tb me intrigavam.

    ResponderExcluir
  6. Acabei de ler o livro ontem (são mais de 400 páginas de muita informação) e vale o peso dele!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O que achou desse post? Seu comentário é muito bem-vindo.

Postagens mais visitadas