Pessoas comuns e incomuns de Curitiba 31


Esse morador de rua com seu guarda-chuva e maleta tendo como fecho uma corda, estava na Praça Eufrásio Correia observando entre árvores, um grupo de jovens que se reunia na praça.

Encontrei dois textos da Gazeta do Povo tendo como tema os moradores de rua.

O primeiro de Sandro Moser, publicado em 28/07/2010 no caderno sobre as eleições, destacava um candidato à deputado estadual que é morador de rua. Segue parte do texto.

Os excluídos, desempregados e moradores de rua têm um representante nas eleições deste ano. Quem garante é o candidato a deputado estadual José de Camargo, o Zezé de Camargo (PRTB), de 63 anos, há 11 vivendo como sem-teto em Curitiba.
“O pior de morar na rua é a perseguição de todo o lado. Minha missão é mostrar que vivemos numa sociedade cruel. Precisamos reverter isso, voltar a acreditar no homem”, filosofa o candidato, enquanto prepara o jantar para colegas de rua, num dos 18 “mocós” que diz freqüentar pela cidade.
Zezé de Camargo – homônimo do famoso cantor sertanejo – passa os dias catando latinhas para vendê-las a empresas de reciclagem. Usa em seu trabalho uma caminhonete Chevrolet 78 bastante deteriorada, que hoje lhe serve também de comitê eleitoral. Seu patrimônio também inclui uma moto e quatro celulares. Tudo comprado com dinheiro da reciclagem. “O lixo esconde fortunas”, explica o candidato.
Camargo é articulado (chegou a iniciar o ensino médio) e fala de diversos assuntos até chegar ao seu favorito: a própria biografia – obra já escrita e à espera de um editor. O título: “Catando latinhas, por Deus, pela pátria e pelos moradores de rua”.
Trabalhou ainda em grandes empresas até montar uma próspera factoring (companhia de empréstimos de dinheiro). Até que, diz ele, uma mulher o fez perder tudo. “A ministra [da Economia] Zélia [Cardoso de Mello] e seu plano econômico me levaram 500 mil dólares. Enlouqueci”, relembra ele, ao citar o Plano Collor, lançado em 1990. Em depressão, abandonado pela família e falido, Camargo fez a opção de voltar para a rua em 1999.
Hoje, diz ter feito a escolha certa. Livre da depressão e do alcoolismo, usou a experiência de sem-teto para montar uma associação de proteção aos moradores de rua e recicladores. “A boa reciclagem poderia ser o caminho para milhares de pessoas que vivem à margem. Infelizmente ela é dominada por uma máfia.”

Pesquisei no site da ALEP e não encontrei o nome do Zezé de Camargo.

O segundo texto, também publicado na Gazeta do Povo em 27/06/2011, assinado por Rafael Waltrick, tem um tom menos esperançoso do que o anterior. Ele relata a rotina semanal de moradores de rua na Catedral da Praça Tiradentes. Segue o texto.

Quem passa apressado estranha a movimentação em frente da Catedral Metropolitana de Curitiba, terça-feiras à noite. Cantos e rezas a essa hora? Indiferente aos olhares, um grupo ganha corpo e principalmente voz. A de “Dirceu”, que acompanha a movimentação um pouco mais afastado, é rouca e baixa. Mesmo assim, ele não economiza esforços ao falar da “família” que o acompanhou em boa parte dos seus 23 anos.
Parte dela está ali ao lado. Haja cômodos para tanta gente. Espaço pelo menos há. Afinal, a Praça Tira­­­­den­­tes é grande, assim como tantas outras praças, ruas, casarões abandonados e terrenos baldios da cidade. Foi nestes locais que, acompanhado dos “irmãos”, “Dirceu” dormiu, comeu, bebeu e chorou nos últimos anos. “Dirceu” é um morador de rua.
Há sete anos o encontro de oração reúne o povo da rua em frente da Catedral. Nos encontros das terças, os participantes recebem alimentos e agasalhos, além da bênção dos agentes de pastoral. Homens e mulheres chegam aos poucos. Muitos são velhos conhecidos. Vêm de perto, posto que a grande maioria está abrigada no Centro. Porém, o grupo é pequeno diante do número estimado de moradores de rua da capital – 2.776 pessoas, segundo levantamento de 2008 do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Conforme balanço das ligações pelo 156 à Central de Resgate Social da FAS, as ruas mais visadas pelos sem-teto são a Presidente Affonso Camargo, Sete de Setembro, José Loureiro e XV de Novembro, nas imediações de pontos como a Rodoferroviária e Terminal Guadalupe.
A preferência pelo Centro não se dá por acaso. “É nessas regiões que tudo acontece. É ali também que existe a maior concentração de serviços de atendimento a moradores de rua. O grande número de lanchonetes e restaurantes contribui”, observa Solange.
O movimento na região também explica a quantidade de chamados à Central de Resgate Social. Só nos primeiros três meses deste ano foram 3.280 ligações para o 156 apontando a presença de moradores de rua. A maioria dos telefonemas (45%) falava de gente dormindo ou caída nas ruas.
“Durante o dia, não há um espaço onde essas pessoas se sintam acolhidas. Por isso, se espalham, principalmente pelas praças. Não ter um local para dormir é o pior. Ainda mais em Curitiba, onde faz muito frio”, lembra o coordenador do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) no Paraná e ex-morador de rua, Leonildo José Monteiro Filho.

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