As vidas de uma casa - parte 3






Em 1949, sua filha mais velha, Agnes, começou a namorar Ernesto Dittmar, também filho de imigrantes alemães. 

Em 1951, o patriarca dos Rudolph, Sr. Carl, que ainda morava com o filho Guilherme, faleceu em decorrência de problemas de saúde. 

Em 1952 Ernesto e Agnes se casam, e como um casal de jovens iniciando sua vida praticamente sem recursos, permanecem morando na casa dos Rudolph. Ao final deste ano, o Sr. Guilherme, aconselhado por seus patrões e sua família, deixou de lado a motocicleta BMW e comprou um automóvel Opel Olympia modelo 1952, zero km. Novamente, a amizade com seus patrões facilitou essa aquisição, com o “financiamento” do carro e o pagamento em suaves prestações a perder de vista. O automóvel requeria um abrigo. Assim surgiu mais uma construção na propriedade: uma garagem com um fosso, o que permitia a autossuficiência na manutenção do veículo.

Com o passar dos anos, os netos do Sr. Guilherme foram chegando: em 55 Paulo, em 58 Edgar, em 59 as gêmeas Alice e Berta (nascidas na casa) e em 61 Irmgard (também nascida na casa).

Aqui cabe um parênteses: a filha do Sr. Guilherme, Adelaide, começou uma carreira de professora, e no final do ano de 58 rumou para um intercâmbio na Alemanha. Lá, enquanto fazia seus cursos e se aprimorava na língua alemã, iniciou uma busca por sua mãe, D. Anna. Com a ajuda de conhecidos e de desconhecidos, descobriu que ela estava do lado oriental, como uma interna de um sanatório, já que não tinha para onde ir. O acesso da Alemanha Ocidental para a Alemanha Oriental era permitido, mas o inverso não. Em suas horas de folga, Adelaide buscava fazer contato com sua mãe, até que conseguiu uns dias a mais e cruzou a fronteira ao encontro de D. Anna. Finalmente, em 1960, após 21 anos, reencontrou sua mãe! Entretanto, este foi somente o primeiro encontro, sendo necessário conseguir que D. Anna cruzasse a fronteira. Meses depois, com um enredo típico de filmes de refugiados, inclusive auxiliadas por um padre que sequer conheciam, D. Anna já estava do lado ocidental. Ainda permaneceram um tempo na Alemanha, até que o período do intercâmbio terminasse. Em 1961 retornaram ao Brasil. Aquela jovem mulher de 30 anos, que em 1939 rumou para a Alemanha, deixando para trás seu marido e suas 3 filhas pequenas, retornou para o lar, agora com 52 anos, encontrando uma filha casada e com 4 filhos (a neta mais nova de D. Anna estava para nascer no final do mês), além de sua filha caçula já noiva!

Enfim agora, o Sr. Guilherme estava com a família completa! 

Em 1961 a filha Rosinha se casa com Erwin Kuhnl e se muda para a casa dos sogros. Mais tarde fixou residência no bairro Capão da Imbuia. Os filhos Ronaldo e Lília vieram respectivamente em 66 e 69. 

Em 1964 o casal Ernesto e Agnes constrói sua casa na Vila Guaíra. 

A filha do meio, Adelaide, dedica sua vida à lecionar, sendo inclusive diretora do Colégio Martinus, além de cursar a faculdade de letras (alemão) na UFPR. Mais tarde, lecionou durante décadas no Instituto Goethe até se aposentar.

Dando um salto no tempo desta história, o Sr. Guilherme, mesmo aposentado, continua a trabalhar na Móveis Ritzmann (na serraria), o que era sempre uma viagem, partindo do Juvevê até além do final da João Bettega, região esta que na época era chamada de Barigui (devido ao rio) e que hoje faz parte da Cidade Industrial de Curitiba. 

Em 74, nasce seu último neto, Ingo, filho do casal Agnes e Ernesto.

Em 1981, aos 79 anos parou de trabalhar na serraria dos Ritzmann e passa a se dedicar à manutenção da casa, ao cultivo de sua horta e a criar peças, ferramentas, equipamentos, tudo o que sua formação na área mecânica permitia. Considerando o tamanho do terreno, plantava milho em conjunto com feijão, além de cultivar um belo parreiral que ladeava o caminho central de acesso à casa.

Continua amanhã...

Comentários

  1. Muito bom. Estas andorinhas de porcelana são uma relíquia. Eram muito comuns, na região de Curitiba, nas casas de madeira ... Esta casa e estas histórias são inéditas para mim. Preciso dar uma circulada por ali, para me situar melhor, 'no espaço e no tempo' ...

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    1. Há detalhes belíssimos e antigos na casa, uma verdadeira viagem para um tempo em que Curitiba era outra, mais simples e tranquila.

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  2. Nati,adorei,história linda,acompanhando este ardo trabalho,fiquei pensando nas minhas raízes,sei parte dela,por ter sido criado pela minha avó;Minha família era matriarcal,até quando ela esteve em vida,depois de adoecer,veio a falecer,a família,já não foi a mesma.Foi se desligando um a um,até que não sei mais noticias de mais ninguém.Hoje sei pouco das minhas raízes,quase se perderam.

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    1. Normalmente é assim. Há sempre na família aquele que faz o papel de elo que une todos os membros. Quando esse se vai, acontece a dispersão de todos.

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