Matte Leão sua história e o desmanche de um prédio histórico
A Leão Junior foi fundada em maio de 1901 por Agostinho Ermelino de Leão Junior, tornando-se protagonista do Ciclo da Erva-Mate, a principal riqueza do estado no século XIX e que foi determinante para a independência do Paraná da província de São Paulo. Não é portanto por acaso que as folhas de erva mate estão na bandeira do Paraná.
Com a morte de Agostinho em 1908, sua viúva, Maria Clara de Abreu Leão, toma a frente dos negócios em fevereiro de 1908, assumindo uma posição rara para mulheres na época.Em 1926 a Leão concluía a construção do prédio que infelizmente já não vemos mais nas fotos de hoje, que contava inclusive com um ramal ferroviário que permitia o escoamento da produção diretamente para o Porto de Paranaguá.
Em 1938 a empresa cria um ícone do imaginário paranaense: o chá Matte Leão, na época em latas. Dessa época vem os slogans: “Já vem queimado” e o nacionalmente conhecido “Use e Abuse”. Em 1969 é lançado o Matte concentrado em garrafas. Em 1973 surgem os saches de chá Matte Leão nos sabores natural e limão.
Em 1983 lança a sua linha de chás de ervas, antecipando-se a moda das bebidas naturais, nos sabores camomila, cidreira, erva-doce, boldo, hortelã, frutas, flores e também, o chá preto.
Em 1987 nasce outra sucesso: o Matte Leão pronto para beber em copinhos (alguém se lembra da propaganda na praia com a musica: “Olha o Matte! Matte Leão!!”?). O produto em princípio focado no mercado carioca, rapidamente alcançou o Brasil todo.
Em 2003 inaugura sua fábrica no RJ. Tendo a posição de liderança nacional no seu ramo, a centenária empresa paranaense é vendida para a Coca-Cola do Brasil, rebatizando suas linhas por Chá Leão, ganhando o mundo.
Em 2009 a nova fábrica na Fazenda Rio Grande é inaugurada, desativando definitivamente a fábrica no Rebouças, selando seu triste destino nas barbas de todos que viveram essa história de dentro ou como consumidores e nas barbas dos que deveriam proteger um patrimônio da história política e social do Paraná, quer por conivência, distração ou desinteresse.
Aquela brincadeira de “Antes e Depois” geralmente mostra um “Depois” melhor. Não é o caso nas fotos de hoje. As seis primeiras mostram algumas das fotos que fiz semanas antes da demolição (clique aqui) e do mesmo ângulo, como está o local no dia de hoje. Nas de hoje podemos ver o enorme tapume escuro, como uma faixa de luto, que envolve toda a quadra onde antes existia a fábrica, que dará seu lugar a um prédio e uma instituição que não tem absolutamente nenhuma relação com o local e com a história de Curitiba e do Paraná.
Soube por fim, que uma importante autoridade da administração municipal esteve numa cerimônia no descampado mostrado numa das fotos de hoje em companhia dos futuros administradores do que brotará dessa terra arrasada.
Pergunto se o dinheiro compra tudo mesmo. Compra a nossa história? Compra a nossa memória? Vamos continuar a ver a história da nossa cidade ser substituída por interesses de poucos em detrimento do interesse de todos? Vamos deixar que Curitiba se torne uma estranha, descolada do seu passado, uma cidade sem identidade? Tenho certeza que há tempo para mudar isso e sei também que há gente muito séria tentando remar contra essa maré de ganância. Junte-se você também à esses que querem ver nosso patrimônio preservado para nós mesmos, nossos filhos, netos e netos desses.
No caso do prédio do Matte Leão, talvez não seja perda total ainda. Na quadra em frente ao prédio demolido, há ainda outros prédios do mesmo complexo (vizinhos da Fundação Cultural de Curitiba). Se vão ser demolidos também não sei. As duas últimas fotos mostram o mesmo prédio na década de 20/30 e como está hoje, ou seja, ainda é o mesmo. Como isso não pode ser considerado um patrimônio da cidade?
Sinceramente eu não achava esse predio bonito.
ResponderExcluirJOPZ
Eu tenho na memória Pos trabalhei lá em 1978 ficou fiz parte da história,na minha imaginação ainda vejo a fábrica do mate Leão..
ExcluirTriste, mas quem demoliu a Mate Leão na realidade foi a Coca Cola, se é que me entendem...
ResponderExcluirAbraço
Oi Jopz, mesmo q não achasse o prédio bonito, a relação que ele tinha com a história do Paraná e Curitiba era inegável. E não há imóvel que bem cuidado não fique bonito (há edificações históricas de Curitiba que comprovam isso), além disso, nem sempre a beleza (e isso é muito relativo e varia de pessoa para pessoa) é o critério para se definir pela preservação de alguma coisa.
ResponderExcluirOi Itamar, não sei o problema foi a Coca ou mesmo a IURD, pois ambas agiram de acordo com o interesse de seus acionistas (ou fiéis). Acho que o problema não está em quem demoliu, mas em quem deixou demolir.
Mas, de qualquer forma, essa é simplesmente a minha humilde opinião.
Abraço para vocês.
que porcaria, tinham que proibir isso, mas o deus mamom ainda é soberano nesta sociedade, e o que importa é o lucro. Aquele lugar era maravilhoso, quando a AIC era alí na frente eu cheguei a fazer cinema, depois eles mudaram pra outro prédio que também tinha a sua "mistica" particular, o que inclusive os fez ir embora hahahah, mas ali naquela rua eu achava bem mais onírico.
ResponderExcluirO prédio de época se foi porque depende da política de patrimônio que cá entre nós deixa a desejar na atual gestão, assim como noutros assuntos. O centro está envelhecido e não são prédios novos e modernos que reerguem e sim a cultura aliada a preservação. Fica prá mim, a lembrança de quando ia no trabalho do meu pai na Marechal e dos tempos do CEFET quando o cheiro da fumaça do mate sendo produzido na fábrica cobria a manhã fria da Curitiba, isso é só prá quem sentiu.
ResponderExcluirTriste para a história de Curitiba, tanto a venda para uma fábrica de refrigerantes da marca Matte Leão, como mais um caça-níqueis de pessoas simples e desesperadas.
ResponderExcluirNão tomo Coca-Cola e não pago dízimo. Ao menos tenho consciência limpa por não contribuir com esta triste página.
Na próxima caminhada teremos a "oportunidade" de observar a ausência desse marco da história de Curitiba.
ResponderExcluirO valor historico do Matte leao é inegável é realmente uma pena para a historia do paraná a demolição de sua fabrica quase que centenária. O bairro rebouças que era conhecido por ser a zona industrial de Curitiba está perdendo suas construções uma a uma. A empresa Mate Real, 2a no ramo no Brasil, e de tanta importancia quanto, também está saindo da Avenida joao Negrao.(instalada ali em 1927) uma nova fabrica foi construida em Almirante Tamandaré e a linha de mate concentrado será fabricada no Rio de Janeiro. O comprador foi o governo, mais especificamente o Instituto Federal que também adquiriu o imóvel da antiga Uniandrade. Soube que o Ippuc foi consultado e que parte do imóvel será preservado. A histroria da Mate Real se funde com a historia do Paraná e é muita vezes ofuscada ou esquecida por nós Curitibanos. Uma pequena correçao, quem foi pioneira no lançamento da linha natural (chas de frutas e flores) no Brasil foi a Mate Real inspirada na Celestial Seasonings (empresa de Boulder- Colorado) depois de visita de seu Diretor-presidente em 1979 a linha de produção da empresa americana. A mate real foi a maior fabricante de mate (e também a primeira) até a década de 1960, sendo superada pela empresa prima (literalemnte já que as duas familias sao parentes). Atualmente a companhia é administrada por sua quinta geração, sendo a empresa de controle famliar mais antiga do Brasil e resistindo a pressoes multinacionais.
ResponderExcluirOI Rodolfo. Muito obrigado pela aula sobre a Mate Real. Sempre consumimos os produtos das duas empresas na casa de meus pais, mas pouco sabia da história deles. Vou pesquisar um pouco mais.
ExcluirGrande abraço.
OS ÓRGÃOS DE PRESERVAÇÃO VIA DE REGRA tem pouca grana e pouca gente. Dependem de solicitações e denuncias da população para colaborar com eles. Telefones para informações
ResponderExcluirórgão de cultura/preservação federal IPHAN Rua José Alencar, 1808 - Juveve, Curitiba - PR, 80040-070
Telefone:(41) 3264-7971
órgão de cultura Curitiba +55 (41) 3213-7500
contato@fcc.curitiba.pr.gov.br
3321 3297
Órgão de cultura/patrimonio Paraná 33120425
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOLÁ. EXPLICO
ResponderExcluirPara preservar algo, prédios, bosques coleções de livros, discos, obras de arte e até seu campinho de futebol, é necessario ou uma ou outra ou as duas coisas: 1 a população faz fotos, cada documentos e depoimentos em video, faz um abaixo assinado, junta tudo e entra com pedido junto ao órgão municipal, estadual ou federal do patrimonio histórico, cultural artistico e ambiental/natural. 2 o órgão responsável deve fazer periódicamente levantamentos do que é de interesse de conservação para a sociedade, o interesse social é o grande valor. Eles criam listas de bens a serem protegidos ou tombam. Acontece que via de regra estes órgãos tem muito pouco dinheiro e pessoal para uma tarefa tão grande. Então, as iniciativas populares de solicitar a preservação de bens históricos, arquitetônicos, arqueológicos, artísticos e naturais assim como as denuncias são fundamentais. Orgão de cultura municipal para informações contato@fcc.curitiba.pr.gov.br
3321 3297
órgão de cultura estadual/ patrimônio 3312 0425
órgão de cultura/patrimônio federal IPHAN Rua José Alencar, 1808 - Juveve, Curitiba - PR, 80040-070
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OLÁ. EXPLICO
ResponderExcluirPara preservar algo, prédios, bosques coleções de livros, discos, obras de arte e até seu campinho de futebol, é necessario ou uma ou outra ou as duas coisas: 1 a população faz fotos, cada documentos e depoimentos em video, faz um abaixo assinado, junta tudo e entra com pedido junto ao órgão municipal, estadual ou federal do patrimonio histórico, cultural artistico e ambiental/natural. 2 o órgão responsável deve fazer periódicamente levantamentos do que é de interesse de conservação para a sociedade, o interesse social é o grande valor. Eles criam listas de bens a serem protegidos ou tombam. Acontece que via de regra estes órgãos tem muito pouco dinheiro e pessoal para uma tarefa tão grande. Então, as iniciativas populares de solicitar a preservação de bens históricos, arquitetônicos, arqueológicos, artísticos e naturais assim como as denuncias são fundamentais. Orgão de cultura municipal para informações contato@fcc.curitiba.pr.gov.br
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Obrigado Marcello.
ExcluirJá faz tempo que observo que Curitiba, apesar dos seus avanços, não dá muito valor à sua história. Digo isso porque me criei na cidade desde os anos 1950.
ResponderExcluirEstou escrebendo minha autobiografia e tenho encontrado dificuldades ao pesquisar a fatos e fotos da cidade.
Excluircorrigindo escrevendo...
ResponderExcluirMe parece ser um mal do qual padece grande parte das cidades do Brasil.
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