Caruso






Estive ontem na Caruso com dois objetivos, comprar as melhores empadas de Curitiba (sério, não tem nada semelhante) e fotografar essa casa, que faz parte da história de Curitiba e é citada e freqüentada por famosos e não famosos. Uma vez dentro da Caruso, fui muito bem atendido pelo Guilherme, atual e jovem proprietário da casa, que muito gentilmente permitiu que eu fotografasse o local e melhor ainda, enviou o texto que reproduzo na integra abaixo, contando a história de sua família e de como a Caruso foi criada. Curitiba é feita de inúmeras histórias de imigrantes como essa, o que torna essa cidade tão especial e tão interessante de se descobrir a cada dia e a cada história. Saboreiem então a história dos Caruso (família) e da Caruso (confeitaria? Restaurante? Casa de empadas?) e caso ainda não conheçam o local, corram para lá para saborear as empadas e as outras especialidades da casa. A Caruso fica na Rua Visconde do Rio Branco, 877, perto do Teatro do SESC da Esquina.

A relação da família Caruso com a área de alimentação e serviços começa no início do século XX, mais precisamente em 1904, quando o imigrante italiano Giuseppe Caruso mudou-se com a esposa Rosa Cesarino, grávida de “Nero”, seu terceiro filho, para Curitiba. Depois de ter desembarcado no porto de Santos, em 1895, com apenas 18 anos, vindo da pequena cidade de Cozenza, na região da Calábria, passou por Uberaba, no estado de Minas Gerais, tendo lá desposado a jovem filha de imigrantes e aonde tiveram os dois primeiros filhos.

Alfaiate de profissão, Giuseppe ficou desapontado com seu terceiro filho, agora jovem, que resolveu ganhar a vida como ajudante de confeiteiro. Antonio Nerone Caruso, nascido em Curitiba, começou logo cedo a trabalhar com a família Romanó – tradicional casta de grandes confeiteiros – e tornou-se especialista em doces e salgados pequenos, os “quitutes” e “acepipes”. Tendo chegado à maioridade, “Nero” – como ficou sendo conhecido – resolveu partir para o Rio Grande do Sul para tornar-se um “mestre” e para conquistar sua independência.

Com o dinheiro que tinha, conseguiu chegar apenas até a cidade de Rio Negro, na divisa com o estado de Santa Catarina. Lá, teve que fazer pequenos “bicos” para conseguir dinheiro. Como era hábil com todo tipo de alimento, não foi difícil de arranjar emprego e, com o tempo, desistiu da idéia de ir mais para o sul, estabelecendo-se então naquela localidade.

Jovem atraente e de boa pinta, logo começou a flertar com a Srta. Erna Victoria Wittig, filha do dentista da cidade, o imigrante alemão Dr. Paul Wittig. Logo se casaram e tiveram o primeiro filho, Nerino Caruso, conhecido como “Bábi” e, seis anos depois, em 1932, Enrico Caruso, o caçula – homônimo do famoso tenor e que, para uns poucos, era conhecido também como “Nêne", aproveitando o apelido do irmão.

“Seo Nero” havia construído um bom nome, sempre associado à gastronomia, e tornou-se proprietário do “grande” bar da cidade.

Depois de um incêndio que destruiu quase todo o seu patrimônio, em 1939, foi ao Rio de Janeiro para buscar o dinheiro do seguro e, na volta, decidiu restabelecer-se em sua cidade natal (Curitiba) com a família recém formada.

Como seu nome já era conhecido por estas bandas, inaugurou, com o dinheiro que havia resgatado, um estabelecimento chamado Barcarola – misto de bar e restaurante e um reduto da boemia – no Parque Graciosa, bairro do Juvevê. Recebeu então, alguns anos depois, a proposta de administrar o bar e restaurante do Cassino Ahú, onde ficou até abrir seu próprio estabelecimento na Praça Ozório (em frente ao conhecido “Bar Stuart”, ainda não inaugurado na época) que, por causa da II Guerra, foi batizado com o americanizado nome “Bar O.K.” (era o melhor que uma família de alemães e italianos poderia fazer).

Mais tarde, com a experiência adquirida no Cassino e com o dinheiro que havia poupado, resolveu ir para Guaratuba abrir um Cassino próprio, mas não deu sorte e, por ironia do destino, o jogo foi proibido logo no início da empreitada. Tendo perdido novamente quase todas as suas economias, ficou por lá, fazendo suas já conhecidas empadas, que desde 1924 agradavam a todos os paladares.

Com o tempo, Nero e Bábi fundaram, naquela aprazível região litorânea, o bar e restaurante Media Luz (com ênfase na entonação grave do “e”, apesar da ausência de acento).

Nessa mesma época, Enrico Caruso, tendo dado baixa do serviço militar, começou a trabalhar com a família. Conheceu então a curitibana Gladis Heidmann, neta de alemães e italianos, com a qual se casou em 1954.

No mesmo ano, tendo adquirido capital suficiente, voltou para Curitiba e abriu, no agora conhecido endereço da Rua Visconde do Rio Branco, a Mercearia Caruso, à qual logo se juntaram os pais de Enrico, Nero e Erna, já aposentados, mas que na cozinha, junto com Dona Gladis Caruso, continuaram a deliciar as papilas de seus clientes. Passados alguns anos da inauguração, Enrico e Gladis tiveram duas filhas, Sylvana e Rosana Caruso.

No começo, a Mercearia Caruso vendia de tudo. Produtos como salames finos, presuntos, queijos dos mais variados tipos, enlatados e embutidos eram encontrados apenas naquela pequena casa. Enrico orgulha-se em dizer que, juntamente com o “mestre” Nero, ensinou gerações de curitibanos a apreciar produtos das mais variadas origens e gêneros, coisas que não faziam parte da dieta da maior parte da população. Em meio a essa infinidade de produtos, algumas especialidades – de fabricação própria – começaram, quase sem querer, a se sobressair. Sorvetes cremosos feitos com o mais puro leite e ingredientes naturais, “apfelstrudell” (strudell de maçã), sonhos feitos com nata batida na hora e, é claro, as empadas de massa folhada, desenvolvidas por Nero.

A qualidade de tais produtos tornou-os notórios, os “carros-chefe” da Mercearia, que ainda mantinha sua vocação de delicatessen.

Nesses anos todos, muitos personagens ilustres passaram por aquelas portas na certeza de encontrar sabores maravilhosos e inusitados. Políticos como Moisés Lupion, Paulo Pimentel, Bento Munhoz da Rocha, José Richa, Beto RIcha, Parigot de Souza, Jaime Lerner, Roberto Requião, Rafael Greca de Macedo e tantos outros senadores, deputados, vereadores, diretores, professores, artistas, atores, empresários... Tradicionais famílias e ilustres desconhecidos.

Essa miscelânea de personalidades que freqüentaram e freqüentam a Caruso talvez também se deva ao fato de não tomar partido sobre qualquer assunto que seja, principalmente em assuntos polêmicos como política e futebol.

Com o tempo, os produtos típicos de uma mercearia foram desaparecendo, tendo seu espaço tomado pelas especialidades da casa, principalmente as empadas (e também pela concorrência que começava a surgir, nos supermercados e afins).

Foi assim que, tendo enxugado sua gama de produtos para ficar apenas com os doces e os salgados (e também com os mais variados doces miúdos e derivados de coco vindos da pequena fábrica de Baby, primogênito de Nero), na década de 80 a Mercearia transformou-se numa Confeitaria. Uma confeitaria, sim, mas diferente de todas as outras, pois não fazia bolos ou outras coisas mais comumente associadas a essa atividade. Tratava apenas de fazer aquilo que fazia bem, e construiu assim um diferencial.

Como alguns problemas de interpretação do gênero “Confeitaria” eram inevitáveis, a casa terminou por adotar simplesmente o título “CARUSO” que, pela tradição construída ao longo do século, a tornava em si um gênero de negócio. Uma “Casa de Empadas”, mas não somente...

Nos anos 90, produtos que satisfizessem a necessidade de pessoas que procuravam uma refeição balanceada e de qualidade fizeram com que a empresa adotasse o “almoço executivo”. Esses “pratos feitos”, porém de grande qualidade, supriram a deficiência das empadas e demais salgados (quibes, coxinhas, pastéis e rissoles) no horário do almoço dos curitibanos. Acabaram por se tornar, também, especialidades da casa.

Guilherme Caruso, neto de Enrico e atual proprietário da Caruso Empadas, e Victor Eimer, proprietário do “caffé Metrópolis”, reconhecida empresa do ramo de cafeterias e cafés especiais, no mercado desde 1996, amigos, clientes mútuos e admiradores de seus produtos, começaram a desenvolver, em fins de 2001, um projeto para a expansão da Caruso.

Com a inauguração do ParkShopping Barigüi, em 2003, surgiu a oportunidade de abrir a primeira loja licenciada da Caruso Empadas. Com o grande sucesso desta loja, os empresários passaram para a segunda etapa do projeto, a expansão e aperfeiçoamento do negócio.

Passados cinco anos do início da parceria, os empresários, já tendo investido na infraestrutura e novas tecnologias, se lançam para os novos tempos com a segurança de um projeto bem estruturado.

Comentários

  1. Menino, não faça isso comigo! Sou doida por uma empada! E de massa folhada! Por aqui ninguém ainda se tocou que uma empadinha pode ser feita com massa folhada. Só eu mesma fazendo, e dá um trabalho insano.

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  2. No Shopping Barigui dá para ver eles fazendo as empadas. É muito legal. Colocam a base (como uma forminha de doce), uma bola enorme de recheio e uma camada fininha da massa como cobertura. Sai crocante do forno!

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  3. Inclui no meu roteiro uma visita ao Caruso!

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  4. SIPZ, tbem acho que é a melhor empada, mas a EMPADA ORIGINAL do pessoal que veio lá de PONTA GROSSA tbem é muito boa e vale conferir...

    http://guia.gazetadopovo.com.br/restaurantes/empada-original/157/

    JOPZ

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  5. Minha vo e bisa vo também é Caruso tenho fotos da família toda antigamente eles são Reinaldo Caruso e Otília chacoroski Caruso e todas as receitas da família em vários cadernos

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