Bustos e Estátuas de Curitiba - Barão do Serro Azul
Oficialmente, vou começar hoje uma nova série de postagens:
Bustos e Estátuas de Curitiba. Digo oficialmente porque já havia feito três
postagens com essa temática focando a Professora Julia Wanderley, Maria Polenta
e o Papa João Paulo II.
Essa série foi uma sugestão do Lincoln Zanardine, leitor
desse blog, que achei ótima. Muito da história da cidade e do país pode ser
contada pelos seus monumentos, pena que quem mais dá atenção à eles são os
vândalos que roubam constantemente as placas de bronze que os identifica,
causando prejuízo para a comunidade. Percebi circulando pelo centro, que muitas
placas estão sendo substituídas por outras de material sem valor comercial.
Menos mal.
Resolvi começar a série com um busto que está meio
escondido, junto ao prédio da Associação Comercial do Paraná, na esquina da Rua
das Flores com a Presidente Faria. Trata-se do Barão do Serro Azul.
Ildefonso Pereira Correia, o barão do Cerro Azul, (Paranaguá, 06/08/1849 — Morretes, 20/05/ 1894), foi um proprietário rural e político brasileiro. Foi o maior exportador de erva-mate do Paraná e maior produtor de erva-mate do mundo. Durante a revolução Federalista, ele e outras cinco pessoas proeminentes da cidade de Curitiba foram executadas sumariamente por ordem do general Éwerton de Quadros sem qualquer processo legal ou acusação formal.
Era filho do tenente-coronel Manuel Francisco Correia Júnior
e de Francisca Antônia Pereira Correia. Nasceu quando seu pai foi destituído de
todos os seus cargos públicos por ter imprimido um manifesto solicitando a
separação da comarca de Curitiba da província de São Paulo.
Conviveu desde cedo com assuntos políticos que envolviam
lutas de conservadores com liberais, de escravocratas com abolicionistas. O pai
morreu quando ele tinha doze anos.
Os irmãos mais velhos galgaram posições importantes na
política e nos negócios, suas irmãs casaram com homens que viriam a ocupar
posições de destaque no governo.
Fez o curso de Humanidades no Rio de Janeiro, o qual
concluiu com distinção.
Ao voltar do Rio de Janeiro, com vinte e quatro anos,
abriam-se as portas do comércio ervateiro. Visitou Montevidéu e Buenos Aires,
grandes centros consumidores de erva-mate brasileira, com o propósito de
conhecer o negócio.
Aos vinte e sete anos, em sociedade, instalou seu primeiro
engenho de erva-mate em Antonina. Quatro anos depois viajou aos EUA para exibir
seus produtos na Exposição Americana obtendo grande sucesso.
Ao retornar, recebeu o convite para ser candidato à deputado
provincial pelo partido Conservador. A partir daí, nunca mais deixou de
participar de atividades políticas.
Com a construção da estrada da Graciosa, transferiu suas
atividades para Curitiba. Nessa época já acumulava ponderável riqueza que
rivalizava com as famílias mais abastadas e tradicionais do Paraná.
Em Curitiba, adquiriu e modernizou o engenho Iguaçu,
construiu o Engenho Tibagi, adquiriu serrarias e lançou-se à exportação de
madeira.
Em 1888, associado com Jesuíno Lopes, assumiu o controle da
antiga Typographia Paranaense, fundada em 1853 por Cândido Lopes na cidade de
Curitiba. Transformaram-na na Impressora Paranaense com o objetivo de melhorar
a confecção das embalagens da erva-mate exportada.
Adquiriu posteriormente o controle acionário da Companhia
Ferrocarril de Curitiba, lançou as bases do Banco Industrial e Mercantil,
comprou o jornal Diário do Comércio, e foi diretor da Sociedade Protetora de
Ensino.
Em 1° de julho de 1890 ajudou a fundar a Associação
Comercial do Paraná, tornando-se seu primeiro presidente.
Alguns comparam-no à Mauá, pois, talvez, nenhum outro
paranaense tenha produzido tanto na política ou na atividade empresarial quanto
ele.
Causou simpatia ao imperador Dom Pedro II quando este
visitou Curitiba em 1881. Ao regressar ao Rio de Janeiro, o imperador
concedeu-lhe a comenda Imperial Ordem da Rosa.
Nas eleições de 1882, elegeu-se deputado provincial.
Desenvolveu suas funções com sucesso enquanto uma crise política empolgava as
ruas.
Assumiu interinamente o governo da província em 1888. Cuidou
de apaziguar os ânimos, mas não pode evitar a crise parlamentar que ocorria na
Assembleia Provincial.
Abolicionista convicto, quando se tornou presidente da
câmara municipal de Curitiba, comprometeu-se publicamente a promover a
emancipação dos escravos do município.
Em 8 de agosto de 1888, recebeu da princesa Isabel, então regente
do Brasil, o título de Barão do Serro Azul.
Com a proclamação da República, o governador Vicente Machado
da Silva Lima convidou-o para a comissão organizadora do partido Republicano.
Repentinamente a situação política mudou: o marechal Deodoro
da Fonseca renunciou e o marechal Floriano Peixoto assumiu a presidência,
dissolveu o Congresso e convocou novas eleições.
No Rio Grande do Sul, o governo Júlio Prates de Castilhos,
apoiado pelo marechal Floriano Peixoto reprimiu a oposição e, logo depois,
começou a revolução Federalista. No Rio de Janeiro, os almirantes Custódio de
Melo e Saldanha da Gama comandaram a Revolta da Armada. Santa Catarina caiu em
poder dos revolucionários, e no dia 14 de outubro de 1893, a capital Nossa
Senhora do Desterro, atual Florianópolis, foi declarada provisoriamente capital
do Brasil, convertendo-se em base de operações militares dos movimentos de
revolta originados separadamente no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Enquanto isto, separada por longas distâncias geográficas, Curitiba estava em
paz.
Uma força de maragatos (rebeldes federalistas gaúchos)
comandada por Gumercindo Saraiva veio do Rio Grande do Sul em direção Rio de
Janeiro. Passando por Nossa Senhora do Desterro, juntou-se aos aliados da
Revolta da Armada e, dali, partiu com destino à Curitiba. O plano dos chefes
maragatos previa o domínio do Paraná com um ataque conjugado por forças de
terra e mar, e uma revolta em São Paulo se ali chegassem as tropas rebeldes.
O comando legalista enviou para o Paraná batalhões formados
por tropas regulares e voluntários civis do Rio de Janeiro e São Paulo. Em
janeiro de 1894, estes chegaram à Lapa onde se travou uma terrível batalha.
Durantes 26 dias as tropas legalistas resistiram aos ataques das forças muito
mais numerosas dos maragatos.
Na madrugada de 17 de janeiro de 1894, uma brigada comandada
por João Meneses Dória tomou a estação de Serrinha. Com a cumplicidade dos
funcionários, passou a responder aos chamados telegráficos como se fosse das tropas
legalistas de Lapa, avisando que milhares de rebeldes estavam marchando para a
Curitiba. Houve pânico na capital e o general Pego, comandante militar da
cidade, fugiu abandonando trens carregados de material bélico.
Devido ao abandono de Curitiba pelas tropas legalistas, a
cidade passou a ser dirigida por uma Junta Governativa presidida pelo barão do
Serro Azul. Em 20 de fevereiro de 1894, João Meneses Dória entrou em Curitiba à
frente de 150 cavalarianos e, de um trem especial, desembarcaram o almirante
Custódio de Melo, Teófilo Soares Gomes e vários oficiais da Marinha e do
Exército. João Meneses Dória foi então aclamado governador do estado do Paraná.
O barão do Serro Azul foi convocado pelos cidadãos para
fazer um acordo com os revolucionários que protegesse a população de
violências, saques e estupros. A Junta Governativa de Curitiba transformou-se
em "Comissão para Lançamento do Empréstimo de Guerra" com o propósito
de arrecadar fundos para os rebeldes e com isso comprar a proteção da cidade.
Embora o barão do Serro Azul e os comerciantes que apoiaram a comissão
procurassem apenas evitar saques e desordens, seus atos os comprometeram como
colaboradores com o movimento rebelde
O tempo perdido pelos maragatos durante o cerco da Lapa
permitiu que as tropas legalistas se agrupassem e recebessem reforços ao norte,
em Itararé, na divisa São Paulo–Paraná. O comandante dos maragatos, Gumercindo
Saraiva, empreendeu um recuo rumo ao sul, abandonando Curitiba. As tropas
governamentais reocuparam a cidade e, no dia 16 de outubro de 1893, o novo
governador do Paraná Vicente Machado da Silva Lima anunciou o estado de sítio
em Curitiba.
O general Éwerton de Quadros, novo comandante do Distrito
Militar, promoveu demissões de funcionários públicos, buscas e capturas de
pessoas acusadas de colaborar com os maragatos. As prisões ficaram tão cheias
que o teatro São Teodoro foi transformado em presídio. Apesar da condenação
pública, várias pessoas foram fuziladas.
No dia 9 de novembro de 1893, o barão de Serro Azul recebeu
uma intimação para se recolher ao quartel da primeira divisão. Outros cinco de
seus companheiros também foram presos e levados aos mesmo presídio: Prisciliano
Correia, José Lourenço Schleder, José Joaquim Ferreira de Moura, Rodrigo de
Matos Guedes e Balbino de Mendonça.
Muitos políticos importantes do Paraná tentaram por todos os
meios livrar o barão de Serro Azul e seus companheiros da prisão. O general
Éwerton de Quadros, temendo uma fuga ou a desmoralização de seu comando,
ordenou a execução de barão de Serro Azul e seus amigos.
Na madrugada do dia 20 de maio de 1894, os seis prisioneiros
foram retirados da prisão e levados à estação ferroviária de Curitiba, sob o
pretexto de embarcarem em Paranaguá em um navio da Marinha com destino ao Rio
de Janeiro, onde seriam julgados.
O comboio parou no km 65 da estrada de ferro
Curitiba-Paranaguá, perto do pico do Diabo da serra do Mar, onde há um alto
despenhadeiro. Os presos começaram a ser arrastados para fora do vagão pelo
pelotão de escolta. Mato Guedes atirou-se pela janela do trem, mas recebeu uma
descarga da fuzilaria e rolou pelo precipício. Balbino de Mendonça,
agarrando-se ao vagão, teve os braços quebrados a coronhadas, e foi abatido a
tiros de revólver. O barão do Serro Azul recebeu um tiro na perna e caiu de
joelhos. Propôs então dividir sua fortuna com os oficiais da escolta se fosse
poupado, porém tombou com uma bala na testa.
O comboio seguiu viagem, abandonando os corpos no local.
Somente no dia seguinte a policia de Piraquara foi avisada da existência de
cadáveres na serra.
Durante mais de quarenta anos, o barão de Serro Azul foi
considerado traidor. Os seus atos foram banidos da história oficial do estado
do Paraná, documentos foram arrancados, referências apagadas, e qualquer
discussão sobre a execução sumária dele e seus companheiros era evitada. A sua
magnífica mansão em Curitiba foi transformada em quartel do Exército, tendo a
baronesa e os seus filhos que morar em um anexo.
Sua vida começou a ser investigada nas décadas de 1940 e
1950 quando ocorreu o resgate de sua memória.
Em 1942, foi publicada a biografia "O Barão de Serro
Azul" escrita por Leôncio Correia. O livro "A Última viagem do Barão
do Serro Azul" do escritor Túlio Vargas, foi publicado em 1973. Baseado
nesse livro, o cineasta Maurício Appel produziu o filme "O Preço da
Paz" em 2003, com direção de Paulo Morelli e roteiro de Walther Negrão. No
elenco, Herson Capri, no papel do barão do Serro Azul, e Lima Duarte, no papel
do general Gumercindo Saraiva.
A sua residência em Curitiba, construída em 1883, foi
restaurada e é atualmente o Centro Cultural Solar do Barão.
Em dezembro de 2004, o senador Osmar Dias apresentou o
projeto de lei do Senado nº 354, de 2004 que propôs a inscrição do nome do
barão de Serro Azul no Livro dos Heróis da Pátria existente no Panteão da
Pátria em Brasília.
A Lei nº 11.863, de 2008, foi sancionada pelo Presidente da
República; Luiz Inácio Lula da Silva; em 15 de dezembro de 2008 e publicada no
Diário Oficial da União em 16 de dezembro de 2008, inscrevendo o nome de
Ildefonso Pereira Correia, o Barão de Serro Azul, no Livro dos Heróis da
Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.
Fonte: Wikipedia.
Li um artigo da Gazeta do Povo que complementa o texto acima.
O trecho que cujas informações não estão contidas acima é o seguinte: “O então
presidente do estado, Xavier da Silva, ao saber da proximidade dos maragatos,
pediu licença do cargo sob a alegação de que tinha de tratar de problemas de
saúde. Vicente Machado, o vice, assumiu e decidiu transferir a capital para
Castro, sua cidade natal”.
Ou seja, os governantes abandonaram Curitiba e sua população
à própria sorte, por isso o barão é considerado um herói. Até hoje ao descerem
para Morretes de trem, observem no km65 uma cruz metálica, marcando o local
onde o barão e seus companheiros foram covardemente assassinado sem direito de
defesa.
Sensacional seu blog, meu caro!
ResponderExcluirSou um carioca que já andou muito à pé por Curitiba, mas que estava há dez anos sem ir à cidade mas agora em agosto, irei passar uma semana.
Estava procurando as novidades e me organizando quando me deparei com este blog de rara sensibilidade e que vê a cidade por uma ótica local que é exatamente o que eu procuro antes de alguma viagem. Imperdível!
Parabéns mesmo, isso aqui é uma cachaça!
Abs!
Carlos Clark
Oi Carlos. Puxa, muito obrigado por curtir o blog. Minha intenção eh essa mesmo, passar uma imagem de Curitiba que foge um pouco dos catálogos e livros de turismo, mais ainda, passar a Curitiba que eu vivo e que descubro a cada dia.
ResponderExcluirVoltara a Curitiba 10 anos depois? Duas dicas apenas para ajudar: nao perca o Batel Soho (almoço no sábado na Praca Espanha e tarde de programação animada) e um passeio com nosso "duble decker bus" , super turista, mas vale para circular por toda a cidade e ver como ela esta hoje (evite final de tarde pois no trecho dos parques, voce congela). Abraco.
Estarei na Carlos de Carvalho ao lado da Praça da Espanha e já preendia dar uma passada por lá. O Double Decker eu não tinha pensado e vou programar. Obrigado!
ExcluirVou acompanhar a minha filha num campeonato de patinação e pretendo - se a oportunidade aparecer, dar uma caminhada do Tarumã ao Batel via Alto da XV e Alto da Glória. Fora a parte dos centros histórico e cívico que eu já conheço bem, alguma dica de rua especialmente agradável, lugar pitoresco e/ou com vista no caminho ou algum desvio que valha a pena?
grande Abraço!
Essa caminhada a partir do Tarumã já abre belas possibilidade. Minha sugestão (partido do Ginásio do Tarumã imagino eu). Voce vai caminhar pela Victor Ferreira do Amaral (que nao eh grandes coisas), mas ao invés de seguir por ela eternamente, sugiro que voce saia dela logo depois de passar pelo viaduto da BR116, pegando a direita na (talvez) R. Pres. Epitácio Pessoa e dessa forma, embrenhar-se pelo tortuoso Bairro Jardim Socal, onde os antigos ricos de Curitiba moravam, formado apenas por casas e muitas arvores. Siga ate achar a Av. Pres. Washington Luiz, onde na Praca Villa Lobos achara uma bela arvore imune ao corte (uma das 51 de Curitiba). Dali de um jeito de chagar na Fagundes Varela, cruze a Nossa Senhora da Luz e já na Augusto Stresser, quando achar o trilho de trem, siga paralelo a esse ate a Padre Germano Mayer e dela ate a Fernando Amaro. Desça a Fernando Amaro ate a Praca do Expedicionário (se nao conhecer, circule por ali). Vire a direita na Ubaldino do Amaral ate a Xv de Novembro (se seguir mais uma quadra, Vera a casa de Dalton Trevisan na esquina com a Amintas de Barros). Caminhe por toda a Xv de Novembro, passando por vários pontos interessantes pelo caminho ate a Praca Osório. Cruze a Praca e tome a rua Comendador Araújo ate essa encontrar a Avenida do Batel. Acho que sera uma caminhada longa, mas bem bacana de se fazer.
ExcluirAbraco.
Excelente! Obrigado!
ExcluirEsse busto não conhecia, vou passar por la e tirar umas fotos! Viva nosso herói Paranaense!
ResponderExcluirAcho particularmente emocionante ver, na descida da serra, a Cruz marcando o ponto onde o Barao foi executado.
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